quarta-feira, 30 de março de 2016

Estupro Marital!



Num dia comum, numa conversa despretensiosa, uma conhecida minha passou a narrar uma história que me parecia irreal.
Trabalhava numa empresa realizando serviços externos e normalmente fazia seus horários de almoço em casa. Logo após a refeição que deveria ser realizada rapidamente, seu marido exigia sexo, diariamente, no  horário do almoço.
O fazia independente da vontade dela e a dizia que trabalhava na rua o dia todo, que ele faria sexo com ela, para que esta não tivesse vontade de ter relações sexuais com desconhecidos na rua. Essa conhecida que era uma mulher até então comum, que gostava de sexo desenvolveu repulsa ao seu esposo e ao ato sexual, ainda hoje, não conseguiu se divorciar por questões religiosas e tem medo de deixar a filha com o pai, sozinhos, visto o comportamento sexual agressivo deste.
Me recordei que em outra situação, uma moça me relatara que devia manter relações sexuais com seu esposo em dias e horas pré determinadas, independente do interesse sexual que ela tinha e mesmo quando o casal tivesse discutido. Necessariamente, naqueles dias, independente de qualquer coisa, deveria haver sexo.
Passei então a refletir sobre o assunto. E descobri o Estupro é um crime recorrente, diário e que faz milhares de vítimas em nosso país diariamente. De forma ainda mais velada e sem sombra de dúvidas mais intensa, o Estupro acontece dentro das famílias em relações conjugais.
Conceituando estupro, podemos entender como ato sexual (conjunção carnal ou ato libidinoso) não permitida, feita mediante coação, violência ou grave ameaça. O Estupro Marital é aquele realizado dentro da relação conjugal.
O Estupro dentro ou fora da relação conjugal é considerado crime no Brasil. Apesar de só ser criminalizado, nestas condições em apenas 52 países no mundo inteiro. Recordamos que somente em 2009 o Crime de Estupro no Brasil, deixou de ser  considerado um crime contra a a honra e dignidade da família  e passou  a ser  considerado um crime  contra a dignidade sexual. A ONU somente em 1993 passou a considera o Estupro Marital, como ato atentatório a dignidade humana e tal conduta só fora criminalizada definitivamente no Brasil, com a edição da Lei Maria da Penha, em 2006.
O atraso do legislador ao tipificar a conduta, só retrata um lento movimento social, que ainda tem um longo caminho a ser percorrido. Mulheres servis, que em tudo devem agradar aos seus esposos, cuja educação e formação se deram para entenderem como agradar um homem e ter uma boa família. São preceitos religiosos e culturais que estiveram e estão presentes na sociedade. Como poderia a mulher servil ter opinião e não querer ter sexo com o próprio marido na hora em que ele julgar conveniente? Para este pensamento da mulher feita para agradar ao seu homem, uma oposição desta jamais seria possível. Nestes casos, de falta de desejo sexual por parte da mulher, esta seria considerada frígida e desinteressante.
Este estigma da mulher que vive em torno de seu homem, acontece no mundo todo e tem raízes mais profundas em culturas fundamentalistas como a islâmica. Não reflete tão somente na relação conjugal sexual, mas em exatamente todas as relações sociais. Na moda, por exemplo, vemos mulheres se mutilando na China para terem pés pequenos e tornarem-se mais atraentes.
A cultura masculina do sexo a todo custo e de prazer no sexo sem consentimento, infelizmente é real, existe e está escancarada. A posição de dominação trazida pelo ato sexual sem consentimento, parece massagear o ego masculino doentio. Me assustei, quando comecei a realizar pesquisa sobre o assunto e simplesmente digitei em meu buscador, estupro marital. Inúmeras vídeos e contos sexuais, foram carregados, sobre o título “Estuprador faz isso e aquilo”, numa simples busca pude perceber que no mercado da pornografia na internet, ser estuprador é um adjetivo infinitamente positivo. Em pensar que inúmeras pessoas ditas de bem, consomem pornografias deste tipo diariamente.
Não há meio termo, relação sexual ou qualquer ato libidinoso, sem consentimento, é sim estupro. Faz-se necessário conversar, discutir e esclarecer, tais situações são recorrentes em nossa sociedade. Tendo em vista que em grande parte das vezes, nossas vítimas, sequer sabem que são vítimas, já que foram forçadas a acreditar que sempre devem estar preparadas para agradar aos seu esposo, que este seria um requisito necessário para serem boas mulheres.

Enfim, apesar do contrassenso os homens de “bem” que pagam seus impostos em dia, trabalham e “colaboram para o crescimento deste país”, são os mesmos que estupram diariamente suas esposas, no seio de suas famílias. Curiosamente, muitas das vezes, levantam suas vozes para pedir pena de morte,  àqueles que são presos e julgados pela prática de crimes!!!

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